Sobre a Coleção Culturas Populares


Um vasta coleção,
reunida nos anos ’60 e ’70.

A Coleção de Culturas Populares e Religiões de Matriz Africana do Acervo Djalma Corrêa foi reunida entre os anos de 1964 a 1978. Ela é composta por materiais analógicos e multimídias: mais de 100 horas de áudio gravados em 196 fitas rolo de carretel aberto, 6000 slides, 4000 negativos e 70 filmes super-8, todos produzidos por Djalma em suas incursões pelo Brasil. Esses materiais retratam em áudios, fotos e imagens em movimento centenas de manifestações Brasil afora. São registros de grupos culturais, terreiros, festivais e encontros de cultura, feitos em três regiões: Norte, Nordeste e Sul do Brasil. 


Uma ideia na cabeça,
um gravador na mão

Em meados da década de 1960, Djalma Corrêa, recém chegado à Bahia para estudar nos Seminários Livres de Música da UFBA, com seus olhos, ouvidos e sensibilidade de músico-pesquisador, logo se interessou pelo universo cultural baiano. Foi nesse período que ele começou a fazer gravações sonoras, – primeiro com um gravador Grundig de seu professor, o maestro Koellreutter, e depois com um Nagra, gravador portátil, muito utilizado no cinema para a captação do som direto – registrando diversos aspectos da cultura popular baiana: a Capoeira, o Samba de Roda, os Ternos de Reis, a Puxada de Xaréu e os terreiros, sempre que permitido. Uma coisa foi levando a outra e, por onde andava, Djalma levava seu gravador. Logo foi ampliando seus horizontes. Primeiro voltou-se para outros locais da Bahia como Bom Jesus da Lapa, Monte Santo, Juazeiro, Feira de Santana e depois, foi circulando por várias regiões do Brasil. 


Viagens e documentação dos encontros e festas

Nessas viagens, Djalma continuou sua prática de documentar encontros de culturas populares e festas tradicionais, coisas que já fazia em Salvador e no Recôncavo Baiano, ainda na década de 1960.

Além desses registros mais espontâneos, grande parte da documentação foi feita através do contato direto com mestres, pesquisadores, folcloristas e agentes de setores culturais e de turismo que, muitas vezes, organizavam os registros para as gravações. 


As Gravações

Cada gravação teve uma dinâmica própria mas, no geral, são gravações feitas em locais abertos, nas sedes dos grupos ou em algum local que possuísse uma acústica mais adequada. Djalma sempre buscou a transparência e espontaneidade em seus registros. Alguns foram feitos em momentos rituais, nos quais Djalma buscava interferir o mínimo possível. 


O Projeto Phono de Pesquisa e Documentação Folclórica

Entre 1973 e 1975, coordenou o Projeto Phono de Pesquisa e Documentação Folclórica. Nesse momento, Djalma e uma pequena equipe foram a diversos estados do Nordeste: Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará e Maranhão; do Norte: Amapá, Pará e Amazonas; e também ao Rio Grande do Sul. O projeto teve produção de Roberto Santana e pesquisa de Lúcia Cordeiro, e contou com o apoio técnico de Railton.

Tudo isso resultou num enorme volume de documentos expressivos das chamadas Culturas Populares Brasileiras e Religiões de Matriz Africana. O Carimbó e o Lundu no Pará, as Taieiras, o Cacumbi e o Samba de Aboio de Sergipe, os cantadores e conquistas de Pernambuco, os Bois e as Tribos do Amazonas, o Batuque e o Marabaixo e do Amapá, os Bois, o Guerreiro e o Coco de Alagoas, as Cheganças e os Caboclinhos do Rio Grande do Norte, o Tambor de Minas e o Bumba-meu-boi do Maranhão, parte da tradição gaúcha e o Batuque do Rio Grande do Sul são alguns exemplos da diversidade das manifestações culturais do Brasil que Djalma documentou. Em um festival ocorrido no Pelourinho, em Salvador, no mês de janeiro de 1974, Djalma ainda registrou manifestações de Estados que não pode pesquisar in loco como o Boi do Piauí e a Nau Catarineta da Paraíba. 


Bens culturais
de natureza imaterial

Apesar de seu interesse pelos aspectos sonoros e musicais, Djalma fez ainda uma documentação fotográfica de fazeres artesanais, de atividades tradicionais, da arquitetura e das paisagens, bem como das feiras populares. Alguns exemplos são: as famosas feiras de Caruaru e Campina Grande; a pesca do camarão em Sergipe; a fabricação de cestas no Rio Grande do Norte; as embarcações no Pará; a Cata de Caranguejo no Pará e Amazonas; os casarios coloniais em cidades históricas; entre outros. 

Grande parte dos assuntos registrados por Djalma receberam, desde o início dessa década, com a consolidação da política de Patrimônio Imaterial, o reconhecimento como bens culturais de natureza imaterial em âmbito nacional, estadual e municipal e até mundial como o Samba de Roda do Recôncavo, o Frevo de Pernambuco e a Roda da Capoeira.